sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Elvis e Eu

III CAPÍTULO


-Percorremos um longo caminho,mas ele continua a usar a mesma tática antiga.É de admirar que as pessoas ainda estejam comprando.
Eu adorava ouvir Elvis rir,algo que acontecia cada vez menos.
Poucos dias antes desse último telefonema,eu soubera que ele andava depremido e estava pensando em romper com Ginger Alden,sua namorada.Eu o conhecia bastante bem para saber que não seria uma iniciativa fácil para ele.E se soubesse que aquela seria a última vez que conversaria com ele,eu lhe diria muito mais coisas...as coisas que sempre quisera dizer e nunca o fizera,as coisas que reprimira por muitos anos,porque nunca aparecia a ocasião oportuna.
Elvis fora parte de minha vida por dezoito anos.Quando nos conhecêramos,eu acabara de completar quatorze anos.Os primeiros seis meses que passei em sua companhia foram repletos de ternura e afeição.Ofuscada pelo amor,eu não percebia nenhum dos seus defeitos ou fraquezas.Ele se tornaria a paixão de minha vida.
Elvis ensinou-me tudo:como me vestir ,como andar, como aplicar maquilagem e arrumar os cabelos,como me comportar,como retribuir o amor...à sua
maneira. Ao longo dos anos,ele se tornou meu pai,marido e quase Deus.Agora ele estava morto e eu me sentia mais sozinha e com mais medo do que qualquer outra ocasião de minha vida.
As horas foram se arrastando lentamente até a chegada do avião particular de Elvis,o "Lisa marie".Por trás de portas fechadas,fiquei sentada,esperando,lembrando nossa vida em comum- a alegria , a angústia,a tristeza e os triunfos, desde a primeira vez em que ouvi o seu nome.
Era o ano de 1956.Eu morava com minha família na Base Bergstrom,da força Aérea, em Austim,Texas,onde meu pai,então Capitão Joseph Paul Beaulieu, um oficial de carreira,estava,estacionado.Ele chegou tarde para o jantar e me entregou um disco.
-Não sei de nada sobre esse tal de Elvis,mas deve ser muito especial-comentou ele.- Entrei na fila com metade da Força Aérea para comprar esse disco no reembolsável.Todo mundo está querendo.
Pus o disco na vitrola e ouvi a música de rock de "Blue Suede Shoes".O disco chamava-se Elvis Presley.Era o seu primeiro lançamento.
Como quase todos os jovens dos Estados Unidos,eu gostava de Elvis,embora não com o fanatismo de muitas de minhas amigas na Escola Secundária Del Valley.Todas tinham camisas de Elvis,chapéus de Elvis e meias soquetes de Elvis,além de batons em cores como "Hound Dog Orange" e Heartbreak Pink".Elvis estava em toda parte,nas figurinhas de goma de mascar e em bermudas,em diários e carteiras,em fotografias que brilhavam no escuro.Os garotos na escola começavam a tentar parecer com ele,com os cabelos penteados trás ,com muita gomalina,costeletas compridas e golas levantadas.
Havia uma garota tão louca por Elvis que dirigia o seu fã clube local.Ela disse que eu poderia ingressar por 25 cents,o preço de um livro que encomendara para mim pelo reembolso postal. Ao recebê-lo,fiquei chocada ao deparar com uma fotografia de Elvis autografando os seios de duas garotas,um ato sem precendentes na ocasião.
E depois o vi na televisão,no Stage Show,de Jimmye Tommy Dorsey.Ele era sensual e bonito,olhos profundos e mediativos,lábios espichados,sorriso insinuante.
Ele avançou para o microfone,abriu as pernas,inclinou-se para trás e dedilhou a guitarra.Pôs-se a cantar com extrema confiança,remexendo o corpo numa sensualidade desenfreada.Contra a vontade,eu me senti atraída.
Algumas pessoas na audiência adulta não se mostraram muito entusiasmadas.Não demorou muito para que suas apresentações fossem rotuladas de obscenas.



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